Formol e Progessiva - União Polêmica.
Ela foi febre entre as mulheres ao proporcionar brilho e principalmente o liso tão sonhado dos cabelos. Entretanto o principal componente responsável pelo alisamento, o formol, teve a sua venda proibida e foi literalmente excluído das lojas de Cosméticos e salões de beleza.
Maiara faz parte do mundo das consumidoras que se encantaram com as facilidades e os bons resultados da técnica. A Escova Progressiva apareceu como sucessora do alisamento japonês, técnica que deixava o cabelo esticado, de forma definitiva, mas que tinha efeito artificial: fios sem movimento e sem brilho. A partir daí, a progressiva se popularizou ao oferecer cabelos lisos, sem frizz, sem volume por um tempo de 3 meses.
Entretanto a lua de mel entre consumidor e esta técnica acabou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, decretou a proibição da venda do formol em lojas de cosméticos, drogarias, farmácias, supermercados, armazéns, empórios, lojas de conveniência e drugstories.
O formol, ou formaldeído (solução a 37%) não pode estar disponível em nenhum destes estabelecimentos. O decreto ainda estabelece punição para aqueles que adicionarem o formol a algum produto cosmético em salões de beleza ou qualquer estabelecimento. Segundo nota no site da Anvisa, tal medida foi adotada "tendo em vista o uso inadequado deste produto em procedimentos de estética. O formol vinha sendo utilizado indiscriminadamente em procedimentos popularmente conhecidos como "escova progressiva", com a finalidade de alisar os cabelos acarretando sérios riscos à saúde. A adulteração de produtos cosméticos, com adição de formol, por exemplo, já é considerado crime hediondo pelo Código Penal Brasileiro".
Tal medida polêmica dividiu opiniões. O cabeleireiro Jonas Araújo não acredita nos benefícios do uso do formol na escova progressiva. Para ele, a adição dos derivados de formol nos cabelos provoca a desidratação da fibra capilar, transformando as proteínas em "plástico solúvel". "O formol cristaliza as pontes de hidrogênio dando uma aparência lisa, mas na verdade estamos plastificando aos poucos os fios. Eles adquirem uma forma estirada e sem movimento, passando a quebrar com o tempo" afirma o profissional.
Entretanto, o que mais se ressalta é o risco de saúde que o profissional e o cliente estariam sujeitos ao utilizarem o formol. A Anvisa declara que quanto maior a concentração e freqüência do uso desta substância, maiores são os perigos. Além da irritação na pele, queimaduras, lacrimação, o formol pode causar graves ferimentos nas vias respiratórias, levando ao edema pulmonar e pneumonia e até câncer no aparelho respiratório.
Os possíveis danos que o formol pode provocar a saúde ainda exigem estudos, pelo menos é o que o cabeleireiro R.I* aponta, a título de deixar o profissional mais informado sobre o assunto. Para ele, o fim da escova progressiva pode vir a beneficiar interesse de grupos grandes. "Eu fazia muitos alisamentos no salão, mas depois que o cliente foi vendo os benefícios da progressiva, ele próprio parou de fazer alisamento. Quantos milhões as grandes marcas podem-se ter tido de prejuízo estes anos todos em que a progressiva entrou?" indaga. R.I acredita que "tudo tinha que ser encarado com um pouco mais de seriedade e ter mais estudo em cima".
Se a medida proíbe a utilização do formol nos salões, fica o peso da fiscalização. R.I demonstra a preocupação que se deve ter com as aplicações clandestinas. "Alguns clientes chegaram para mim e disseram que eu tinha que arrumar um espaço escondido para continuar fazendo a escova progressiva. A gente fica numa sinuca de bico, porque se nós pararmos aqui, o outro continua. E ai?" questiona o cabeleireiro.
Alternativas
A partir do momento que a escova progressiva passou a ser alvo de críticas, inúmeras técnicas de alisamento surgiram, com nomes diferentes e até saborosos. Escova de chocolate, cana-de-açúcar, morango, avelã... nomes é que não faltam. Apesar da diversidade, a base é a mesma: utilização de uma substância química para modificar a estrutura do fio. O princípio ativo precisa entrar na fibra capilar, atravessar as escamas e a medula do fio até chegar no córtex (no caso do formol muda a nível de cutícula, não de córtex), local onde se encontra a queratina e nela modificar ligações feitas pelas pontes de enxofre para aí provocar o alisamento.
Para fazer este rearranjo apareceram duas alternativas para substituírem o formol: o tioglicolato (de amônia e de etalonamina) e os hidróxidos (de sódio, de cálcio e guanidina). Apesar da novidade, o efeito não é o mesmo. Jonas Araújo afirma que o sódio e a guanidina não oferecem o mesmo resultado e jamais oferecerão, e sim a amônia, utilizada nas progressivas. Já o tioglicolato está com força total para realizar o alisamento não precisando nem de fazer o uso do secador após a aplicação. Entretanto, Jonas ressalva que a utilização de forma errada do produto pode levar a quebra dos cabelos. "Aplicar contra o nascimento do fio pode levar a dobra e a quebra rente ao couro cabeludo após uma semana no máximo do trabalho realizado", explica.
Mesmo com as novas opções ainda fica a dúvida para um melhor alisamento. R.I demonstra claramente o enigma que ainda está na cabeça de muitos cabeleireiros. "O que vai substituir o formol? Meu conhecimento químico não é suficiente para poder dizer, mas acho que não tem outra coisa para substituir o efeito desta fórmula", afirma. Fica o desafio para os profissionais da área decifrar tal enigma.
*R.I é um nome fictício, pois a fonte preferiu guardar o verdadeiro nome em sigilo.
Fonte: Revista Belle